18 de março de 2013

As Virgens Suicidas de Jeffrey Eugenides

 

Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança.  O coro lírico que então se forma ajuda a dar um tom sui generis a esta fábula de inocência perdida.

Adaptado ao cinema por Sofia Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução brasileira, o livro de estreia de Jeffrey Eugenides rapidamente se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea. Grande parte desse sucesso se deve a sua prosa virtuosística, com um gosto por detalhes que dá às descobertas banais dos narradores – um armário cheio de cosméticos, um absorvente na lixeira do banheiro – uma vivacidade incomum.

Os mistérios vibrantes do "intoxicante caos feminino" se misturam a certa melancolia que evoca  - nostálgica e criticamente – valores e sentimentos do que se convencionou chamar de sonho americano.

Desse cenário idílico, de regadores automáticos nos jardins, meninas "transpirando néctar" à beira da piscina e manhãs de domingo em que "espetáculos com a frigideira" produzem panquecas, surge uma beleza estranha e arrebatadora, definida pela crítica do New York Times Michiko Kakutani como "pequena e poderosa ópera no formato inesperado de romance".

 

Uma história muito intensa – claro que não poderia ser diferente, pois se trata de suicídio –, mas ao mesmo tempo muito singela. A voz narrativa é bem trabalhada e interessante, pois  os garotos, que depois se tornarão homens, conseguem fazer com que os leitores entrem na história. É um modo de narrar bem diferente, pois parecia que os meninos/homens ainda estavam tentando compreender e entender o que levou as garotas Lisbon ao ato extremo de tirar as próprias vidas – e mesmo muito tempo depois do fato, eles ainda não chegaram a uma resposta, e acho que essa viagem toda que é o livro é para levar a nós, leitores, a ajudá-los a isso.

A primeira das cinco meninas a se suicidar foi Cecilia e, para os meninos da vizinhança, foi o primeiro contato com a morte! Dá para perceber o choque que sentem e tal fato só serve para aumentar ainda mais a curiosidade e glamour que as meninas Lisbon exercem nos vizinhos. Fora da escola, eles só veem as meninas quando elas saem para ir à missa de domingo ou  quando aparecem nas janelas ou na frente da casa rapidamente. A mãe é uma mulher que prende muito as meninas e não permite que elas se socializem muito. E, na escola, elas não têm muito liberdade, pois o pai é um dos professores.

Como disse, a narração é feita pelos homens que esses meninos se transformaram. Às vezes temos a impressão de que eles estão escrevendo uma tese, pois citam anexos e entrevistas que fizeram com pessoas que viviam na região e com os próprios Sr e Sra. Lisbon. Além disso, eles puxam pela memória e vão trocando lembranças e informações que tinham ou ouviram quando adolescentes e os marcaram. Não é uma narrativa muito linear, portanto, mas é algo que vai aumentando o suspense. Claro que, pelo resumo, já sabemos o que vem pela frente, mas queremos ver como e descobrir o porquê!

Eu acho que o autor conseguiu escrever uma obra em que permite ao leitor inferir e tirar suas conclusões e a interagir com a história de acordo com sua experiência de vida e olhar pessoal. Eu, por exemplo, senti que o livro era uma ode a vida, pois os meninos narradores constantemente nos lembravam das dificuldades que sentiram ao crescer e em como a vida nem sempre foi fácil e legal com eles, mas nem por isso desistiram dela e acho que, por isso, buscavam tanto entender o ato das meninas Lisbon. A prosa é riquíssima e, às vezes, uma única palavra era capaz de nos abrir mundos e suposições diversas!

Pode parecer pelo resumo, que já nos diz o que esperar, que o livro é previsível. Ledo engano! Esse livro traz tantas coisas inesperadas e nos ajuda a fazer tantas descobertas e abre tantos questionamentos que a leitura é realmente inédita. E posso dizer que em futuras releituras, vou descobrir novos ângulos e visões, pois o autor realmente sabe como trabalhar as palavras e como ir conduzindo o texto para um aproveitamento sensacional da história.

Super recomendo!

0 comentários: