4 de agosto de 2009

Minha vida como traidora de Zarah Ghahramani

 

vida como traidora

Nascida em 1981, Zarah Ghahramani cresceu em um subúrbio de Teerã. Filha de pais liberais de classe média, foi criada para acreditar que a educação não era um privilégio dos homens, por isso foi encorajada a ler ampla e ambiciosamente. Zarah possuia o entusisamo adolescente natural de garotas do mundo todo. Mas, como todas as mulheres de sua geração, tinha de se vestir com cores sóbrias e cobrir os cabelos a fim de respeitar as normas rígidas do regime iraniano.

Fascinada por Arash, estudante e ativista político líder de protestos, conhecido por ser um transtorno para o regime, Zarah ingressa num movimento político estudantil, mas o sonho de liberdade logo se transforma em pesadelo – ela é presa e enviada à penitenciária mais notória de Teerã: Evin.

E seu lar, agora, é uma cela de concreto, sem janelas.

Em Minha vida como traidora, Zarah Ghahramani conta a história de sua aterrorizante tribulação e eventual libertação e descreve como a dolorosa experiência a transforma em uma mulher corajosa e determinada. Uma autobiografia poderosa e lindamente escrita sobre a vida em um regime opressor.

 

Biografias e autobiografias não são muito meu estilo de leitura. No entanto, esse livro me chamou a atenção desde que o vi no site de uma livraria. E eu gostei muito dessa leitura.

Me identifiquei muito com Zarah, afinal escolhemos a mesma área de estudo: tradução. Outro ponto que gostei muito foi o modo como ela conseguiu aprender e crescer, como pessoa,  lendo e analisando todo o aprendizado que teve durante sua vida.

O livro já começa com Zarah indo para o primeiro interrogatório. Uma cena muito tensa e onde vemos todo o terror da situação em que ela se encontra.

A historia transcorre entre interrogatórios e sua vida na pequena cela e sua relação com o preso da cela acima  - Sohrab – uma relação que a ajuda e é delicada e truncada e muito especial e interessante. Entre os interrogatórios e as conversas com Sohrab, Zarah divaga e nos mostra a cultura iraniana, a vida que ela levava, a importância dos pais e da educação em sua vida e formação pessoal. Fiquei encantada por saber mais desse povo e sua história, pois geralmente só vemos ou ouvimos falar sobre os atos e ações dos políticos e autoridades religiosas que regem o país.

Um capítulo que achei apaixonante foi o 14, onde ela divaga sobre a língua e literatura e a importância do idioma na construção da identidade, tanto pessoal quanto do país.  Vou colocar um trechinho para mostrar a beleza da prosa nesse capítulo:

“O idioma de minha mãe é o farsi, ou persa, a língua antiga da Pérsia e ainda a oficial do Irã…

… o farsi combina com os persas. É fruto da sensibilidade persa. Já falei sobre as características persas em relação ao amor e ao namoro, mas não mencionei  o mais adorável aspecto em relação ao idioma: é a língua dos mentirosos. Não dos mentirosos frios e calculistas – não é o que me refiro; não dos mentirosos que usam a língua como um ladrão usa as mãos. Não, eu me refiro àqueles que sonham, àqueles que contam histórias a si mesmos e acreditam nelas graças à beleza com que são contadas;  àqueles que usam palavras para fazer rosas desabrochar no deserto, onde o sol queimou o solo, deixando-o negro e avermelhado.

… Não é a língua dos curtos e grossos, dos moralmente destemidos. Você consegue obter uma resposta direta de um persa? Não, não é possível porque, a caminho de fornecê-la, o persa subitamente se dá conta de uma centena de rotas mais fascinantes até a resposta e, antes que perceba, um simples “sim” ou “não” tornou-se uma aventura que requer mil palavras para ser contada…”

Apesar de toda poesia e beleza que ela nos mostra, Zarah também revela a crueldade e ignorancia do governo no trato com as pessoas e as leis insensatas e insanas que regem o país. Ela revela a busca pela liberdade de expressão, pela liberdade de viver a vida da forma como quiser e desejar. A liberdade de andar com os cabelos ao sol e ao vento e de estudar e amar sem precisar temer a perseguição religiosa e policial.

Se quiser saber mais, há um site onde, inclusive, há vídeos sobre a prisão (que é praticamente um personagem do livro também). http://www.minhavidacomotraidora.com.br

7 comentários:

Por Felícia Bastos disse...

Parabéns pelo blog. Muito interessante! visite também o Mural da Felícia feliciassantos.blogspot.com/

La Sorcière disse...

Olá!!! Estava com saudade dos seus posts!!!
Gosto muito de histórias de "gente" e tenho fascínio por ler sobre outras culturas e como é a relação da mulher com a sociedade vigente. Este livro é a minha cara.....mas não vou me empolgar....tenho uma pilha de livros para ler!!!!
Bj
Ahhhh....tem selinho para vc no blog!

Regina disse...

Oi Felícia,

Obrigada pela visita!

bjs

Regina disse...

La Sorcière

Estava sumida pois meu PC resolveu não trabalhar mais rsrsrsrsrs. Fiquei 05 dias sem poder digitar, navegar - quase enlouqueci kkkkkkk. Mas aproveitei para ler bastante!

Gostei muito desse livro - exatamente por mostrar a cultura e o modo de pensar da Zarah. Vale a pena, sim!

Obrigada pelo selinho!

Bjs

Leitura Nossa disse...

Eu gosto de livros sobre mulheres fortes, vencedoras... fiquei doida pra ler esse...
Vou ver se compro...

beijos,
Dé...

Anônimo disse...

Acabei de ler o livro e encontrei teu blogue justamente a pesquisar sobre a senhorita Gharhramani na net.
Parabéns. A vida é muito grande. Sempre vence.

ivone damas disse...

Olá, já li alguns livros sobre mulheres iranianas, li o caçador de pipas, Livreiro de Kabul e realmente fico impressionada com a força desse povo. A crença e a esperança renascendo a cada dia são surpreendentes. Parabéns Zarah pela coragem e determinação!