23 de março de 2011

A Besta dos Mil Anos de Ilmar Penna Marinho Jr.

“- Vou aguardar. Pode deixar que vou descobrir tudo que anda escondendo de mim – disse o padre, como se, por trás do sorriso irônico do curador, desconfiasse de algo demoníaco que o misterioso vazio na parede quisesse ocultar.

O padre Antoine Duvert, de repente, silenciou e ficou com o semblante grave, aflito, de quem estava prestes a orar. Reconhecia como legítima e saudável a ambição do curador do castelo em recuperar pelo menos um dos setes quadros perdidos da sequência da Revelação Divina; em especial, a recuperação a qualquer preço da cena desconhecida do Diabo enjaulado por mil anos. Na verdade, temia que esse quadro desaparecido significasse que o dragão de sete cabeças estivesse solto no mundo. Onde estivesse, estaria semeando a discórdia, incentivando a aids, a pedofilia, o aborto, a clonagem humana, instigando a violência, a ganância e a corrupção. Tudo indicava que os homens teriam perdido a batalha do bem contra o mal. Essa foi a visão aterrorizante que sua mente teve, pairando sob as imensas torres circulares do Castelo de Angers.”

O leitor encontrará um clima eletrizante de suspense e ação na recuperação da famosa cena, desaparecida desde o século XIII. A trama diabólica, primorosamente estruturada, cheia de reviravoltas e muitas surpresas, envolve religiosidade, mistérios, vingança, ódio e amor, e traz de volta a figura bíblica da Besta dos mil Anos.

Os personagens convivem com a maldição templária, o dinheiro fácil, a violência nas ruas, a escalada do sexo, a proliferação das drogas e a ganância corruptora. Conclamando seus adoradores a praticarem todas as maldades no mundo porque o fim dos tempos está chegando…

Gostei muito dessa história. Um suspense muito bem escrito e que prende a atenção do começo a fim.

Aqui, os personagens são pessoas “reais”. Não existe aquela idealização tão comum aos romances de mistério. Eles não são  somente bons ou maus, mocinhos ou vilões. Todos os personagens trazem em si o bem e o mal – exatamente como todos nós – e têm o poder de escolher seus caminhos e fazer sua história.  E foi esse aspecto de seres por quem você   torce, depois sente repulsa, depois raiva, depois pena,  o que mais me atraiu no decorrer do livro.

Fiquei intrigada, também,  com a Tapeçaria do Apocalipse. Uma obra de arte medieval que retrata todo o Apocalipse de São João e que foi muito maltratada e mutilada e que, agora, o governo francês busca restaurar a antiga glória. Só que, no decorrer dos séculos, algumas cenas se perderam. Entre eles a figura do dragão de sete cabeças, que simboliza a Besta, e que foi aprisionada por mil anos. Além de ser uma perda grave para a linha de tempo da tapeçaria, há também todo o simbolismo cristão de o diabo estar solto no mundo e trazendo o mal para a humanidade. Assim, recuperar essa cena é tanto restaurar uma obra de arte quanto aprisionar o demônio que vaga pelo mundo trazendo a violência e o terror.

Acontece que essa cena vem aparecer no Brasil, mais precisamente na favela da Rocinha. E sua presença realmente traz o mal, pois os franceses de uma ONG que estavam tratando da devolução da relíquia são torturados e mortos pelos traficantes que estão atrás do dinheiro e da peça. E é aqui que entram os personagens de Leonardo, Lisa, Aurélien (amei esse nome e personagem!) e Júlia e a luta pela posse da cena. Cada um deles têm seus motivos e agendas e lutam como podem para cumprir sua missão e seu destino.

Adorei as reviravoltas na história! Não vou falar sobre cada personagem, pois é muito melhor cada leitor ir descobrindo aos poucos a personalidade e o papel que cada um vai desempenhar no decorrer da trama. E podem contar com muitas surpresas, pois Ilmar vai narrando como se estivesse tecendo e só vamos ver toda a “cena” ao chegar ao final! E é um final cheio de surpresas! Nem preciso dizer que gostei muito desse modo peculiar de narrar.

Se vocês quiserem ver a tapeçaria, os Castelos na França e algumas outras curiosidades que aparecem no livro (adoro poder ver e sentir o cenário!) podem se dirigir ao site do livro. Garanto que vai ser uma viagem bem legal! http://www.abestados1000anos.com.br/

2 comentários:

BeliM disse...

Nossa! Parece um livro incrivel!
Não conhecia!
Gostei muito da sua descrição e fiquei curiosa para ler! Muito bom!

bjuss

Anônimo disse...

Olha, fiquei interessada, viu. Parece ser muito bom! Adoro um bom suspense, e raramente vemos um ambientado no Brasil. Quero ler!

Beijos!