13 de janeiro de 2010

Talvez uma história de amor de Martin Page

talvez uma historia de amor

Locatário de um pequeno apartamento num bairro parisiense de prostituição e drogas, Virgile é um celibatário de costumes rígidos, tendência monomaníaca e aversão a vida social ativa. É ele o protagonista de Talvez uma história de amor, de Martin Page, um anti-herói, que deixa comida apodrecer na geladeira, enxerga no escuro com a luz de um capacete de espeleologista, rejeita a promoção que lhe oferecem na agência de propaganda onde trabalha e é sempre abandonado pelas mulheres que ama, “uma certeza maior que a gravidade.”

Certo dia, de volta à casa após o trabalho, encontra na secretária eletrônica uma mensagem de Clara, que lhe anuncia o rompimento do namoro. Não haveria surpresa nisso, não fosse o fato de ele não ter qualquer lembrança de nenhuma Clara que tenha sido sua namorada. Recorrendo até a sua psicanalista, na busca por uma explicação satisfatória, acabará por tomar uma decisão inaudita: reconquistar aquela mulher que ele não conhece ou da qual ao menos não se recorda.

Nessa comédia romântica, surpresas e reviravoltas se combinam para permitir a Martin Page as reflexões sobre o amor e a vida que são pano de fundo de uma fábula repleta de vivacidade e fino humor. Tudo em sua narrativa, desde as cebolas que preparam na frigideira até os personagens mais elaborados, tem uma identidade própria e um papel essencial numa Paris ao mesmo tempo acolhedora e devoradora de seus habitantes e suas mais íntimas esperanças.

Estava navegando pela Livraria Cultura quando dei de cara com esse resumo. Conclusão: minha curiosidade foi despertada e já fui encomendando o livro. O resumo é fiel a história, mas esquece de dizer que Virgile é adorável e louco e completamente cativante!

Ao chegar em casa depois de um dia cansativo, Virgile vê a luzinha da secretária eletrônica piscando. Ao ouvir a mensagem, entra em parafuso: quem é essa Clara que está terminando o namoro com ele? Ele pega a secretária eletrônica e segue para a psiquiatra – gente, é muito engraçada essa cena! - E por aí vai a história, com Virgile tomando as decisões e fazendo escolhas e aprendendo com seus erros e acertos. E vamos com ele, descobrindo suas manias, suas amizades, seu passado e seu desejo de mudar.

O livro tem muitas frases e conceitos que me fizeram rir e pensar e me apaixonar por Virgile! Ele é realmente um anti-herói e sua história é muito gostosa e divertida. Não me arrependi do impulso de comprá-lo e já fiz propaganda e já tem fila para lê-lo.

Um gostinho para vocês:

“…

Depois de desligar da tomada o abajur da mesa para ligar a do aparelho da secretária, Virgile apertou o botão de leitura. A mensagem apareceu.

- Então essa mulher o deixou – disse a psicanalista.

- Não exatamente.

- Mas ela disse isso claramente. Você é que não está aceitando.

A doutora Zerkin acreditava ter posto o dedo na ferida. Afinal de contas, os dois conheciam a situação da vida sentimental de Virgile: que ele provocasse a ruptura por parte de alguém era algo bastante plausível. Como os fenômenos das marés ou da migração das aves selvagens, fazia parte da ordem natural das coisas. Virgile sentia-se feliz por poder contradizê-la e, pelo menos uma vez, com razão.

- Nós não estávamos juntos. Nem sequer a conheço.

A doutora Zerkin segurou os óculos entre os dedos e começou a limpar as lentes. O caso a interessava. Após uma jornada inteira ouvindo neuroses clássicas, não tinha nada a opor a um pouco de fantasia. Recolocou os óculos e afastou as mãos num gesto de interrogação.

- E como você interpreta isso?

- Não quero interpretar. Quero entender.

- Ah, é?

….

… – Será que eu poderia ter tido um caso de amor com ela sem perceber?

- Você não é louco.

A afirmação abalou Virgile. De repente, sem nenhuma preparação, sua psicanalista, uma mulher com quem se encontrava três vezes por semana havia cinco anos, apagava uma de suas angústias.

- Não está dizendo isso só para me acalmar?

- Você me paga pela minha objetividade.

…”

2 comentários:

Beth Miranda disse...

Fiquei curiosa tb.

Renato disse...

Leia o "A gente se acostuma com o fim do mundo". O personagem - na minha opinião - cativa ainda mais que Virgile. Na verdade, comprei o Talvez para suprir a falta do outro personagem, hahaha!